segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Estética - belo e feio

Nada é mais condicionado, digamos limitado, do que nosso sentimento do belo. Quem quiser pensar sobre ele separado do ser humano com o ser humano logo verá o chão ceder sob os pés. O "belo em si"é uma mera expressão, não é sequer um conceito. No belo, o ser humano se coloca como medida da perfeição, em casos seletos, adora nele a si mesmo. Uma espécie não pode senão dizer sim a si mesma desse modo. Seu instinto mais profundo, o da autopreservação e auto-expansão, ainda se manifesta em tais sublimidades. O ser humano acredita que o mundo está repleto de beleza - ele esquece de si mesmo como causa dela. Somente ele dotou o mundo de beleza, oh, de uma beleza muito humana, demasiado humana... No fundo, o ser humano se espelha nas coisas, acha belo udo o que lhe devolve a sua imagem: o juízo "belo"é sua vaidade de espécie... Pois o cético pode ouvir uma leve suspeita lhe sussurrar esta pergunta: o mundo realmente se tornou belo pelo fato de o ser humano tomá-lo por belo? Ele o humanizou: isso é tudo. Masnada absolutamente nada nos garante que justamente o ser humano constitua o modelo do belo. Quem sabe como ele se saíria aos olhos de um mais elevado juiz do gosto? Talvez ousado? Talvez até divertido? Talvez um pouco arbitrário?... (Friedrich Nietzsche - IX, 19, Crepúsculo dos Ídolos)

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