quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Teoria do Conhecimento


A TEORIA DO CONHECIMENTO[1] - Teoria do Conecimento

Se reunirmos os ensinamentos aristotélicos contidos na lógica, na psicologia e na abertura da metafísica, veremos que a teoria do conhecimento deve responder a algumas questões fundamentais: qual a relação ou diferença entre sensação e ciência, e como se dá a aquisição de conhecimentos? A primeira questão consiste em compreender tanto por que a sensação é condição da ciência como a diferença entre o conhecimento sensível dos particulares e o conhecimento inteligível dos universais, uma vez que só há ciência no universal. A segunda consiste na distinção aristotélica entre o que é primeiro para nós e o que é primeiro na ciência, isto é, a diferença entre o início do conhecimento por meio das sensações e o início de uma ciência por meio de princípios e axiomas, uma vez que a ciência é conhecimento dos princípios e das causas e por meio dos princípios e das causas. A terceira consiste em determinar quais as qualidades e disposições psíquicas que permitem a alguém passar da ignorância ao estado de saber, uma vez que o desejo de saber é natural em todos os humanos.
Compreenderemos as respostas de Aristóteles a essas questões se observarmos que sua teoria do conhecimento possui três características principais:
1 – Procura os instrumentos que permitam conhecer as coisas particulares, pois são elas a única e verdadeira realidade, ainda que para conhecê-las tenhamos que passar pelo universal (o ser, a substancia, a essência...). A passagem pela definição e pelo conceito, pelo universal necessário, visa alcançar o conhecimento do particular, pois só este existe realmente. Não podemos ter ciência de Sócrates ou Cálias, mas é para conhecê-los que precisamos ter a ciência do homem.
2 – baseia-se na idéia de que o mundo é uma totalidade hierarquicamente organizada e racional que pode ser conhecida graças a certos princípios válidos tanto para as coisas como para o pensamento, tais como o princípio de contradição, de identidade, do terceiro excluído, ou os princípios, tais como o princípio de contradição, de identidade, do terceiro excluído, ou os princípios de classificação dos seres por gêneros e espécies segundo a diferença especifica, e os três grandes pares de conceito da metafísica e da física, quais sejam, matéria-forma, potência-ato, essência-acidente. Somos seres naturais aos quais é possível, pelo lugar que ocupamos na escala do Kósmos, conhecer a realidade sob todos os seus aspectos.
3 – Admite uma solidariedade natural entre coisas (a unidade de cada ser), conceitos que delas formamos (o inteligível presente em cada sensível) e discursos nos quais as exprimimos( a lógica).
Desse modo pode-se afirmar que conhecer é reunir os componentes de uma coisa singular, ou de uma substância real, unir os semelhantes e separar os discordantes, para formar o conceito ou a definição dessa coisa singular. Para isso, começamos com os dados dispersos da experiência – a sensação - , passamos a uma primeira síntese desses dados empíricos – o sentido comum e a imaginação auxiliada pela memória – e chegamos a uma primeira unidade racional que nos oferece os atributos ou predicados essenciais e acidentais desta coisa – a razão. O percurso do conhecimento é o caminho que vai das sensações às imagens e percepções, destas às palavras, e destas aos conceitos, juízos, proposições e silogismos. Todavia, esse é o percurso segundo nós, isto é, conforme às nossas disposições e potencialidades psíquicas que nos fazem começar na sensação e terminar na demonstração. Não é este o percurso segundo as coisas, isto é, de acordo com a ciência, pois esta deve começar com os princípios universais, conhecimento com a ciência, pois esta deve começar com os princípios universais, conhecimento por intuição intelectual. Assim, a razão operando com princípios universais, conhecidos por intuição intelectual. Assim, a razão operando com princípios, axiomas, definições e demonstrações, formula juízos sobre as coisas, tomadas numa unidade superior que é a dos gêneros e espécies, por meio dos quais voltamos à coisa singular, mas desta vez tendo o seu conceito verdadeiro.


[1] CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário